“Via Appia”, de Jochen Hick (1989) Realizado em 1989 por uma produção alemã , é com certeza um dos únicos registros filmados no Rio de Janeiro que mostra a cidade por uma outra faceta. Um olhar maldito e underground sobre os pontos de prostituição masculina (saunas gays, Galeria Alaska, Via Appia) no auge do temor da Aids. Mendigos, travestis, miches, pivetes, gringos em busca de sexo, o misticismo religioso. Você jamais viu uma mistura tão explosiva, um filme que mostra a cidade carioca da forma mais apavorante e feia possível: escura, perigosa, cenário de filme de terror. Nessa terra de ninguém, se desenrola a história de Frank, comissário da Lufthansa que retorna ao Rio para encontrar o garoto de programa que o contaminou com o vírus. Ele vem junto de uma equipe documental de uma televisão alemã para fazer um registro do submundo carioca. Ele é ajudado por Jose (Guilherme de Pádua), um garoto de programa que o auxilia na busca do cara que o contaminou. O filme é realizado através do olhar documental. Usando uma câmera de 16 mm, Hick faz da câmera subjetiva a testemunha de uma época que assustava pela sua libertinagem. Tudo era permissivo, sem medo, sem culpa. Hoje em dia essa câmera subjetiva virou clichê, mas aqui, era novidade. O filme, por ser de baixo orçamento tem uma realização muito tosca. Mas dai reside o seu charme. Maldito, perverso, fetichista, proibido para menores e pessoas sensíveis. O Guilherme de Pádua anos depois se envolveu em um caso de assassinato que enterrou de vez suas pretensões de ser artista. Muita nudez, muito sexo e a prova de que o cinema nos anos 80 era muito livre. A trilha sonora é recheada de sons eletrônicos e sintetizadores.